sexta-feira, dezembro 31, 2004

pândega

língua: português
def.: do Lat. pantice; s. f., patuscada; bródio; boémia; pop., festa de comes e bebes; folguedo ruidoso.
imagem: depois de sairem da tasca do Rodrigues, os três amigos desceram a rua principal em ruidosa confraternização. Abaixo da porta da Ti Maria puseram-se a cantar os atributos da filha de forma algo desbragada. Ela era os cabelos, ela era os olhos, ela era os seios... Quem não estava para aturar aquilo era o pai. Levantou-se, resmoneando, foi à janela e berrou para a rua que "aqueles pandegos não se pusessem na alheta e se ia encarregar disso pessoalmente". tirada que, mais do que obviamente, foi recebida com alcoolica chacota. e pronto, o resto o compadre já sabe: o velho disparou a caçadeira e apanhou a perna do João Finório. o rapaz pôs-se a berrar que o tinham morto e o velho que "ainda não meu mariola, mas não tarda" e disparou de novo, acertando de raspão no Alfredo que estava a ajudar o amigo. a sorte deles é que desataram a fugir antes do velho ter recarregado a arma. de qualquer das maneiras, levar um tiro de sal é para a vida e a prova é o Alfredinho, que ficou sempre meio careca daquela tiraço

quinta-feira, dezembro 30, 2004

beirado

língua: português
def.: s. m., beira do telhado; parte do telhado que faz saliência sobre o prumo das paredes; água que goteja do telhado; borda, beiral.
imagem: a telha caíu a prumo, escaqueirando-se na tola do porco. no dia seguinte houve festa mas foi o Zézinho que teve de reparar o beirado...

quarta-feira, dezembro 29, 2004

marialva

lingua: português
def.: de Marialva n. pr.; adj. 2 gén., relativo às regras de cavalgar, estabelecidas pelo marquês de Marialva (à gineta); s. m., bom cavaleiro; deprec., indivíduo fidalgo que leva vida dissoluta.
imagem: "só visto, o gajo a saltar da janela e o marido atrás, caçadeira em punho, a bradar aos céus. foi festa rija, aposto. 3 vinténs de gente, a meter-se na casa de pessoas de bem, é bem feito. o espertinho, anda para aí a chegar-se às moças e a comer do que lhe deixou o pai. pois, pois, isto de ter nome, havia de se merecer", assim falava o Coraça, que gostava de rilhar nos dentes os desacatos dos outros para apontar a sua rectidão entre dois copos bem escorripichados de tinto. e para remate, lá lhe saiu o costumeiro "aquele, é um marialva! havia de ser meu filho que andava logo a direito" porque o homem tinha laivos de educador apesar solteiro empedernido.

terça-feira, dezembro 28, 2004

capote

língua: português
def: de capa; s. m., capa comprida e larga, com cabeção ou capuz; casaco comprido que faz parte do uniforme militar; capinha de toureiro; galinha de Angola; não fazer vazas no jogo ou fazer menos de trinta tentos no jogo da bisca; fig., disfarce.
imagem: Alfredo, o pilha-galinhas, era uma daquelas figuras que enquadram em qualquer grupo de jovens malandros. tinha um método simples mas eficaz: debaixo do longo capote de abas largas, (presente do pai pela passagem de ano escolar), prendeu uns fios ao cinto, de onde pendiam, depois de dextramente lhes partir os pescoços, as galinhas que pela calada da noite surrupiava nos quintais. estas eram depois bem cozinhadas na casa do Feliciano Manso e copiosamente regadas pelo vinho desse ano. deixou saudades, entre a malta, quando embarcou para a América. de lá mandou um postal mais tarde, ao lado de uma matrona que não lhe cabia no capote, embalando dois petizes que apresentava como filhos.

sexta-feira, dezembro 24, 2004

Soror

lingua: Português
def: pl. sorores, do Lat. sorore, irmã, s. f., tratamento dado às freiras.
imagem: no fru-fru dos saiotes, era bem conhecido o gosto que fazia a soror Ana, a mais velha das três irmãs e assim apelidada por ter ficado para tia, muito, muito beata, por uma gotinha no fim do jantar. é o meu único vício, dizia, no tom de quem é desculpado antecipadamente, mêrce da idade. e assim lá ia despejando o abafadinho na modorra do final da noite, ao braseiro. quando morreu, os sobrinhos, avarentos, escavacaram a casa à procura do ouro que se dizia ter escondido na mobilia. debalde, que a velha, esperta, tinha mandado tudo há muito para convento das Carmelitas, por um cento de missas pela sua alma.

quarta-feira, dezembro 22, 2004

urdidura

lingua: português
def.: s. f., acto ou efeito de urdir ou tecer; conjunto dos fios ao longo do tear por entre os quais se passa a trama; fig., enredo, intriga.
imagem: "o mais fascinante, para quem, que como eu, tinha apenas aterrado no meio daquela história toda, era a desenvoltura com que a dita senhora manobrava o marido. este era decididamente um fraco e apesar de eu ter a certeza dos planos urdidos por aquela mente de fuinha beberem mais no instinto que na cultura, não conseguia deixar de ver o paralelo com uma outra, de outra história, contada por um bardo de Albion. de qualquer das maneiras, negócio é negócio e, aplicação prática da escola italiana, a mencionada foi devidamente embrulhada nas suas tramas e aliviada no Cávado."
ficheiro 103, Torre do Tombo (por indexar)

segunda-feira, dezembro 06, 2004

pagodeiro

língua: português
def: s. m., estroina; pândego.
imagem: F., conhecido membro de pleno direito do grupo do dominó, os de 54, como gostavam de se chamar, era muito atinado. homem regrado, conhecia-se-lhe apenas aquele pequeno vício, que era para o acharem pessoa normal. isto até ao dia da grande revelação, na festa da padroeira, em que lhe trocaram as voltas e o estômago com uma zurrapa que o mandou pela pista de dança adentro, agarrado à Ermelinda. a partir desse dia nunca mais se livrou da fama de pagodeiro que os maldicentes lhe puseram.

sexta-feira, dezembro 03, 2004

quadrilha

língua: português
def: s. f., do Cast. cuadrilla, grupo de quatro pessoas, conjunto de quatro ou mais cavaleiros dispostos para o jogo das canas; cavalhada; bando de ladrões ou salteadores submetidos a um chefe; peça musical correspondente à contradança; pop., multidão; súcia; corja.
imagem: desceram a rua vindos da rua do cemitério. o ar sabujo não enganava ninguém. os sacanas tinham no intento a pilhagem. mas nesse dia, que a memória para sempre registou, o tiro saíu pela culatra. começou pela queda do Tininho à frente da tasca do Teles. chefe que se preze não pode fazer deslizes destes em público. mas isso foi só o início. porque para apagar a imagem do Tininho esparramado foram-se meter com o janota do Zé, recém-chegado da metrópole e conhecido medricas. antes de encostarem o gajo à parede, contudo, o filho do Alfredo, que nasceu estúpido para grande desconsolo dos pais, despistou o trator e limpou-lhes o sebo. a todos. no funeral, no fim-de-semana seguinte, houve festa rija e o rapaz foi herói durante largos anos. até conseguiu casar!